Freebike

América do Sul em Bicicleta

As Histórias sobre rodas de uma Portuguesa

1. Equador
O Quito é uma faixa urbana estreita que se estende por mais de 60 km, apertada pelos vulcões e as montanhas que a rodeiam e onde a arquitectura colonial se sobrepôs à arquitectura Inca. Quando vi estas montanhas e os declives das suas encostas questionei se a bicicleta seria a melhor forma de transporte para as percorrer. Lembro-me que no dia da saída estava tão nervosa que a bicicleta tremia por todo o lado e a carga que levava parecia-me excessivamente pesada.

As primeiras semanas de ciclismo foram duras e raramente interessantes. Dezembro coincide com a estação das chuvas, e os primeiros quilómetros foram percorridos na Pan-Americana, que para além do tráfego pesado não oferecia vistas dignas do esforço. Era suposto estar a pedalar na Avenida dos Vulcões, mas a chuva e as nuvens não permitiam o privilégio de avistar os colossos fumegantes que só em raras ocasiões se revelaram.

A rota no Equador levar-me-ia a atravessar a cordilheira Andina até ao Peru. Do Quito passei por Latacunga, Ambato, uma cidade caótica onde cheguei debaixo de chuva intensa mas onde no dia seguinte pude visitar o mercado colorido e conhecer outro ciclo-turista da Alemanha e trocar informações, Riobamba, uma cidade que celebrava com festejos carnavalescos a chegada do Natal, Alausi, pequena vila metida entre as montanhas que recebe milhares de turistas ávidos para percorrer os seus desfiladeiros num assombroso percurso de comboio, Cañar, a capital da cultura Pré Inca dos Cañares e onde se encontra a cidadela Inca de Ingapirca, a mais bem conservada no Equador, Azogues e a sua catedral altaneira, Cuenca a cidade mais bonita do Equador, com as suas ruas vestidas de arquitectura colonial e a sua atmosfera cosmopolita, aí passei várias semanas aguardando os meus cartões extraviados, e a caminho de Macará já na fronteira com o Peru, uma cidade de faroeste poeirenta e feia, passei por uma zona ecológica única no mundo, uma selva semi-seca onde abundam árvores com formas bizarras, mas onde o solo é seco, amarelo e montanhoso.

Ficou por ver a costa e a selva, mas em bicicleta é difícil percorrer todo um país, sobretudo quando isso significa um sobe e desce constante. Neste percurso recordo sobretudo o acampamento na base do Vulcão Chimborazo, o mais alto do Equador e o desvendar dos andes equatorianos que são um mundo à parte, um mundo onde as tradições permanecem fortes, onde os trajes típicos dão cor ao verde das montanhas, onde os mercados transbordam de frutas e vegetais exóticos. As pessoas são acolhedoras, sobretudo quando te vêem monte acima com a bicicleta carregada.

E há muito que subir, o passe mais alto foi aos 4390 metros e aí o oxigénio já não satisfaz os pulmões, o frio congela até o pensamento. Na cordilheira andina há muitos locais para acampar e desfrutar a paisagem, que estando tão perto da linha do Equador, é verdejante e fértil, acima dos 3000 metros de altitude as inclinações das montanhas desafiam as leis da gravidade, mas durante as minhas pedaladas pude ver os campesinos nos seus trajes coloridos e os seus animais, confirmando que aquelas plantações são obra humana.

E há cidades para dar descanso aos músculos e oferecer uma cama quente ao corpo cansado. O Equador é por excelência um país montanhoso, mas também com muitos contrastes entre as suas diversas regiões e não posso deixar de sentir que é também um país exótico e latino, mesmo a 4000 metros de altitude, é o único país atravessado pela linha que divide o mundo ao meio, onde se pode encontrar neve, mas também selva e áreas secas, e isto atesta a sua diversidade paisagística. Foi com muita tristeza que deixei o Equador, aí tinha ultrapassado grandes desafios físicos e mentais, feito amigos e desfrutado de paisagens únicas, foram 59 dias, 20 dos quais sobre a bicicleta com 985km percorridos e um desnível total de 27.697 metros , que aventuras me aguardariam no Peru?

por Joana Oliveira

Link
http://www.freebike.pt/v1.5/index.php?option=com_content&view=article&id=28:america-do-sul-em-bicicleta-&catid=3:breves&Itemid=51

publicado a 8 de Agosto de 2008

Semanário Regiao de Leiria

Voluntariado

Conheça as histórias de leirienses solidários

Apaixonada por viagens, gosto que acredita ter herdado do seu avô paterno, Joana Oliveira, natural de Leiria, a viver em Londres desde 2001, iniciou em Novembro passado uma viagem pela América do Sul em bicicleta. O objectivo é percorrer vários países, em busca do contacto com novas culturas e populações.Entre perder o passaporte assim que chegou ao Equador, pedalar sobre um sol intenso, acampar com vista para o vulcão Cotopaxi, também conhecido como o vulcão de cone perfeito, e ser mordida por um escorpião, Joana descreve as suas aventuras e desventuras no portal A vida em movimento (www.constant-movements.com).Numa das muitas paragens que realizou pelo Peru, em Março, surgiu a possibilidade de realizar trabalho de voluntariado na Casa Hogar Los Gorriones, um orfanato em Ayacucho.A colaboração prevista para uma semana prolongou-se por um mês, em que auxiliou profissionais peruanas a cuidar de 25 crianças abandonadas ou com deficiências cerebrais. Na memória guarda o dia em que chegou ao orfanato, quando contactou pela primeira vez com Noemi, uma criança com quem estabeleceu amizade. Descreve-a com “olhos grandes, castanhos, cabelo negro, sorriso largo e mãos de carinho”. “Para mim aquela criança doce com quem passei horas a fazer os trabalhos de casa e a brincar, era apenas um ser inocente, com o futuro em aberto e com um passado que eu esperava fechar-se”, conta.Ao fim de um mêse embora lhe pesasse o facto de o orfanato necessitar de muito mais ajuda, Joana partiu em direcção à Bolívia, passando por Cusco e Machu Picchu. A leiriense prevê ficar mais cinco meses na América do Sul. No entanto, avisa que “tudo muda e nada tem mudado mais” do que os seus planos de viagem, podendo esta estadia prolongar-se por mais algum tempo.

por Marina Guerra

Link
http://www.regiaodeleiria.pt/?lop=conteudo&op=705f2172834666788607efbfca35afb3&id=e1a4b71442eaa2eda3ef1b6e25937f7f&drops[drop_edicao]=459

publicada em 20 de Junho de 2008

Diário de Leiria

Leiriense pedala por terras da América do Sul Em viagem há cinco meses

Joana Oliveira é uma leiriense que actualmente reside em Inglaterra, de onde partiu rumo à América do Sul, com o objectivo de percorrer vários países de bicicleta, em busca de novas culturas e contacto com a população local.A vontade de viajar e experienciar novas culturas motivou a leiriense Joana Oliveira a partir rumo à América do Sul em bicicleta.Confrontada com as escassas oportunidades de trabalho em Portugal, Joana Oliveira, de 29 anos, natural de Leiria - cidade onde cresceu e tirou o curso de Turismo da Escola Superior de Educação -, reside actualmente em Inglaterra, país que deixou "por tempo indeterminado" para viver o seu sonho: "percorrer o mundo e sentir na primeira pessoa as suas realidades"."A minha viagem é motivada pelo desejo e a felicidade que sinto quando viajo", contou ao nosso jornal, enquanto atravessa a Bolívia, onde deverá percorrer as margens do Tticaca, o lago mais alto do mundo, a 3.900 metros de altitude.Um desafio, pelo seu companheiro de viagem, Nuno, levou Joana Oliveira a adoptar a bicicleta como meio de transporte. Apesar das dificuldades sentidas, esta leiriense encarou o desafio como a oportunidade de ultrapassar as percepções que tem de si própria e "provar que não existem impossíveis"."Pedalar nas montanhas Andinas foi o maior desafio físico e psicológico da minha vida, mas para quem deseja sentir o mundo o mais próximo possível, a bicicleta permite precisamente essa sensação", explicou, sublinhando que "todo o sofrimento físico é compensado, não só pelas vistas fabulosas que aguardam no cimo de cada montanha, mas também pela generosidade daqueles que vou encontrando pelo caminho".Noutra perspectiva, salientou, "estar fora do trilho turístico e fazer uma viagem mais alternativa, com mais aventura e interacção" com a população local faz igualmente esquecer as dificuldades que começam a surgir depois de muitos quilómetros a pedalar. Há cinco meses a pedalar pela América do Sul, esta leiriense já percorreu 2.300 quilómetros, tendo visitado o Equador e o Peru.Joana Oliveira pretende continuar a viagem por mais cinco meses, com o objectivo de atravessar o Chile, Argentina e Brasil. Porém, o seu verdadeiro objectivo não tem destino ou meta de chegada. "Vou vivendo à medida que as coisas vão acontecendo e orientando a minha rota em função das circunstâncias", referiu, adiantando ter poupado dinheiro durante cerca de um ano para a viagem, a par da ajuda da família.

Trabalho voluntário com crianças no Peru

O trabalho voluntário num orfanato no Peru é a melhor experiência que Joana Oliveira guarda da sua viagem.Durante um mês, trabalhou com crianças, na sua maioria portadoras de deficiência, naquele que é o "único orfanato na região que recebe crianças especiais". "Recebi mais dessas crianças do que possivelmente tenha dado", salientou.Joana Oliveira recordou ao Diário de Leiria a véspera de Natal, passada no cimo de um monte, onde um homem a ameaçou e ao seu companheiro que queimaria a tenda, temendo que ali estivessem para o roubar.Contou ainda o episódio em que, no norte do Peru, foi picada por um escorpião escondido nas malas. "Não vivi para o susto", disse, recordando também uma "subida interminável" de mais de 40 quilómetros, com "inclinações brutais e curva atrás de curva".

por Helena Amaro

http://www.diarioleiria.pt/18094.htm

publicado em 16 de Maio 2008

Portal Mexicano Terra

Cruzan América en bicicleta


Dos ciclistas cruzan la última parte de un recorrido que comprende todo el Continente Americano, en bicicleta.

En 2006, el ciclista aficionado Nuno Brilhante, de Portugal, se subió a su bicicleta en Inuvik, al norte de Canadá, para dar el primer pedalazo de lo que será un viaje de unos 25,000 km. La carretera Panamericana ha sido el camino principal por el que Nuno ha viajado desde hace dos años. Traspasar fronteras Geográficas y mentales ha sido una tarea que ha logrado en este tiempo, además de tener recompensas tan únicas como la amistad. Precisamente así fue como gran parte de su viaje lo ha hecho en compañía de su amiga Joana Oliveira, quien se unió a la aventura en Cancún, México.Hasta el 20 de abril, Nuno y Joana estaban en Andahuaylas, Perú, con 631 días recorridos, 28.506 km y muchas historias por contar.

por Juan Pablo Ramos

http://www.terra.com.mx/articulo.aspx?articuloid=644286

publicado em 23 de Março de 2008

Portal Naturlink

Testemunho do Vento – Descobrindo a Serra de Aire e Candeeiros
Sugere-se um percurso na Serra de Aire e Candeeiros, onde o vento desperta os sentidos, a água se esconde, as rochas brincam ao insólito e a aridez que nos envolve conta a história de uma serra difícil para o Homem, lentamente desbravada.


A Serra de Aire e Candeeiros é um grande bloco calcário, que se estende por 35000 hectares, definindo uma barreira física entre a Estremadura e o Ribatejo. As gentes que nesta terra desejaram viver travaram uma árdua luta para ganhar terreno ao solo rochoso, num processo de recolha de pedras para tornar os solos aráveis, e de pedra moldaram a paisagem, hoje composta por muros que se estendem num emaranhado de perder de vista, como se de uma teia de aranha se tratasse.A geomorfologia desta serra representa o que de mais significativo existe em formações cársicas (1) no nosso país. Abrangido por grande parte da Serra de Aire e Candeeiros, o Maciço Calcário Estremenho marca 200 milhões de anos de violentos abalos sísmicos, da movimentação progressiva das placas téctonicas e da lenta erosão provocada pelas águas na macia rocha calcária.

É o mundo do silêncio. É o mundo das profundezas. É o mundo das insólitas formações rochosas. É também o mundo onde a água se esconde nas entranhas do mundo. O fascínio das grutas, os secretos algares (2), as dolinas (3) e polges (4), os canhões cársicos (5) e os campos de lapiás (6) são manifestações naturais que nos surpreendem pela sua invulgaridade e que se multiplicam nesta serra de suaves recortes. Mas não se podia falar na Serra de Aire e Candeeiros sem fazer referência ao Parque Natural que nela está circunscrito - o Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros – que abrange os distritos de Leiria e Santarém, os concelhos de Porto-de-Mós, Alcobaça, Rio Maior, Santarém, Torres Novas e Ourém, e que foi criado com o objectivo de preservar todo o património cársico ali existente e toda a especificidade natural, cultural e patrimonial que tem marcado o viver e o ser desta serrania.

Sugere-se, então, para estes dias de Outono, em que as primeiras chuvas vão fazendo as suas aparições, um percurso nesta serra onde o vento desperta os sentidos, a água se esconde e as rochas brincam ao insólito.

Como Chegar:Desde Porto-de-Mós, através da EN1, seguindo em direcção a Alcanede, pela EN 243, até chegar a Chão das Pias, seguindo até Poço da Chainça, onde tem início o percurso.

1ª Etapa – Escola Primária do Poço da Chainça – Lugar da Fonte

A Escola Primária do Poço da Chainça é uma pequena escola que, como tantas outras no nosso país, evidencia os sintomas do progressivo envelhecimento das populações dos meios rurais. Actualmente poucas serão as crianças que ali iniciam os seus estudos, mas parte da escola foi aproveitada como casa abrigo do Núcleo de Espeleologia de Leiria, revitalizando parte de um edifício destinado ao abandono. Das traseiras da escola seguimos a caminhada, atravessando a estrada que nos trouxe, e seguindo em frente (NO) por um caminho de terra batida, entre muros. Sob os nossos pés podemos observar várias lajes calcárias e zonas de olival, intercalado com bosquetes de azinheiras de pequeno porte e eucaliptos. O chilrear dos rouxinóis ou dos pintarroxos compõe a banda sonora que nos acompanha durante a caminhada.

Subindo um pouco, chegamos a uma bifurcação onde, por um lado, temos uma cerca de madeira e, por outro, um estreito caminho à nossa direita. Seguimos este caminho entre muros, tomando a direcção do casario e da uvala (7), que em vários tons de verde se estende na nossa vista. À medida que vamos descendo, podemos observar pequenas construções de pedra que servem de apoio à pastorícia e à agricultura. Esta é restringida às pequenas propriedades delimitadas por muros de pedra solta, localmente conhecidos como chousos, autênticos quebra cabeças, resultantes da retirada de pedras do solo, para que dele se possa tirar o sustento, tornando-o arável e propício à pastorícia. As referidas construções servem para arrecadar utensílios agrícolas e, simultaneamente, o abrigo de alguns animais de pequeno porte, como as simpáticas ovelhas ou as curiosas cabras que por ali pastam.

2ª Etapa – Lugar da Fonte – Subida para os Moinhos
Depois de uma descida entre muros e olivais, chegamos a uma estrada branca que iremos percorrer.
Na depressão consequente da uvala podemos apreciar a forma como os terrenos são divididos por chousos, onde predominam campos de cultivo anuais, sobretudo de batata, trigo, milho e aveia. Nestas zonas é frequente avistarem-se pequenos ouriços-cacheiros e ratos-do-campo, algumas espécies de aves, como a gralha-de-bico-vermelho e do peneireiro-de-dorso-malhado, que ali vão no Outono para se alimentarem dos restolhos, e também pequenos répteis. Carvalhos frondosos, azinheiras e oliveiras, estas últimas marco do processo de humanização levado a cabo pelos monges de Císter de Alcobaça, no decorrer do século XVII, fazem parte da paisagem deste troço. Poderemos também apreciar a arquitectura de algumas casas que permanecem com a sua traça primitiva – a sua simplicidade e despojo denunciam o meio pobre onde se inserem, marcado pela ausência da água e pela escassez de solo arável. Seguimos, calmamente, pela estrada branca entre muros até chegarmos a um espaço onde o chão se transforma numa laje imensa e formações rochosas, que evocam possíveis cenários da lua, afloram à superfície – são os campos de lapiás. Este espaço terá sido utilizado como eira, mas actualmente é só mais um dos pontos de passagem do nosso percurso, que prossegue, tendo como destino o Cabeço dos Carvalhos, onde se encontram altaneiros três moinhos. Ali chegados, após uma subida exaustiva, podemos apreciar a vasta paisagem que se nos afigura: o castelo de Porto de Mós e as suas torres azuladas, bem como a pacata vila que se estende nas suas encostas. É tempo agora de apreciar os moinhos de pedra, testemunhos da importância que a moagem teve na economia destas populações serranas, alguns, lamentavelmente, num estado avançado de ruína. Mas não será difícil imaginá-los com as suas velas brancas a rasgarem os céus e, com alguma sorte, algum deles encontrar-se-á aberto para podermos apreciar o que resta das roldanas e mós que outrora ajudaram a moer a farinha, que, seguramente, fez pão a muita gente.

Ainda no Cabeço dos Carvalhos é também de apreciar uma construção de pedra utilizada como eira e cisterna. Devido à grande permeabilidade dos solos calcários, que torna a água escassa à superfície, foram criadas as cisternas como meio de aproveitamento das águas pluviais.

3ª Etapa – Cabeço dos Carvalhos – Fórnea – Escola Primária de Chão das Pias
É tempo agora de descermos o monte dos moinhos e andar um pouco pela estrada de alcatrão (direcção SE), até encontrarmos um pequeno atalho do nosso lado esquerdo, o qual tomamos.Mais uma vez a paisagem se vai compondo de chousos, que simbolizam também o início da apropriação das terras, que até alguns séculos atrás não pertenciam a ninguém, quando o principal meio de sustento era a caça, a pastorícia e a apicultura. Com a introdução de técnicas agrícolas, cada pedaço de terra arável passou a ter grande importância, e o ofício de encaixar as pedras calcárias que abundavam naquela serra, para dela delimitar os terrenos e torná-los aráveis, tornou-se no factor de humanização mais marcante desta paisagem.E assim continuamos entre muros, que encerram campos verdejantes, onde vacas pastam serenamente, e o tempo tem o seu próprio tempo. Não se espante se durante a sua caminhada encontrar fósseis de fauna e flora marítima. Estes são provenientes de depósito sedimentares no fundo dos oceanos, que com os movimentos das placas continentais oceânicas emergiram após milhares de anos.Vamos subindo pelas encostas até nos depararmos com uma formação que serve, por si só, de motivo de visita – a Fórnea. Nome popular que deriva de forno, a Fórnea é um grande anfiteatro natural resultante da erosão cársica, onde os seus 525 metros de encosta abrupta constituem uma das formações geomorfológicas mais interessantes do parque natural. Vale a pena aproveitar para sentir o vento, apreciar o silêncio e a grandeza da Natureza.
Continuamos entre muros até à pequena localidade de Chainça, e daí seguimos novamente até à escola primária, onde damos por terminado o nosso percurso.

No Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros pode também visitar: as Salinas de Fonte da Bica em Rio Maior, que são as únicas não marítimas no nosso país; as grutas de Stº António, Mira d’Aire e o Algar do Pena; os Olhos de Água na nascente do Rio Alviela, que abastece de água grande parte de Lisboa.; as Polges de Minde e Alvados; as Dolinas do Arrimal; o Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios e a Reserva de Burros.Estas são, sem dúvida, razões mais do que suficientes para desejar conhecer esta zona tão peculiar do nosso País e para aliar o pretexto de uma caminhada, que é sempre saudável, a um fim-de-semana diferente.

(1) Formações Calcárias;(2) Aberturas naturais de progressão vertical, que originam grutas. Só na Serra de Aire e Candeeiros são mais de 1500;(3) Depressões de forma circular e de fundo preenchido por sedimentos, mais largas do que profundas, que podem eventualmente estar ligadas a um algar;(4) É também uma depressão de fundo plano, resultante da corrosão das rochas de vertentes abruptas, onde desaguam as águas existentes nas nascentes ubterrâneas, formando, geralmente no Inverno, grandes lagos na sua depressão;(5) Gargantas profundas talhadas na rocha por cursos de água, cuja origem é externa e que se afundam no seu leito;(6) Formas resultantes da dissolução da rocha por infiltração de água, que confere à paisagem aspecto árido.(7) Formação cársica que se assemelha a um vale, resultante da coalescência de dolinas.

por Joana Oliveira

http://www.naturlink.pt/canais/Artigo.asp?iArtigo=7798&iLingua=1

publicado em Outubro 2000

Portal Naturlink

Castanheira de Pera e o Encanto das Caminhadas

O bom tempo convida-nos a passeios por paisagens naturais, que nos proporcionem o contacto com sons, cheiros e imagens tantas vezes esquecidos. Por isso lhe propomos uma viagem ao passado e ao presente, em terras da Serra da Lousã.

Como que saída de um conto de fadas, a bucólica vila de Castanheira de Pera surge-nos por entre as encostas da Serra da Lousã. O caminho que se percorre até lá chegar já não é o sinuoso de curvas e contra curvas apertadas; agora o IC8 levou as curvas que durante tanto tempo impediram as gentes de se aventurarem por outras paragens, e essas mesmas gentes desejam agora partir para longe da terra que durante tanto tempo as isolou do mundo.

Castanheira de Pera foi terra de indústria. Os ventos da Revolução Industrial despertaram o pioneirismo que levou os castanheirenses a transformar as águas das ribeiras em força motriz, dinamizadora da indústria de lanifícios, em tempos considerada a terceira maior do país. Agora resta o silêncio e as ruínas das fábricas que se amontoam ao longo das ribeiras.



A natureza vai encontrando pouco a pouco o seu equilíbrio perturbado pelos constantes rios de tinta que foram despejados nas suas ribeiras, ou os pedaços de tecidos que iam ficando presos às árvores ribeirinhas como fantasmas. Já não há mais o bulício dos trabalhadores, nem das sirenes das fábricas, nem de camiões, nem de nada. A natureza regressa de novo a sua casa.

É de novo a Serra da Lousã que abraça por vales e montes todo o concelho. Para aqueles que não conhecem é talvez difícil acreditar que em tão pouco espaço exista uma tal diversidade de cenários naturais. Os cabeços forrados a urze multicolor, matéria prima para o Mel da Serra da Lousã, escondem recantos onde se ouve o tilintar das águas que percorrem, saltitantes, as escarpas graníticas e xistosas, ladeadas por bosques de carvalhos, castanheiros, abetos, ciprestes e tantas outras pinceladas de tons que dão o mote para o nosso passeio.

Também é curioso notar que, não sendo esta área uma zona protegida, as suas riquezas naturais têm estado protegidas dos incautos, e permanecem ali belas e inexploradas.

O passeio que se sugere passa por alguns dos cenários que aqui foram descritos.

Como chegar?

A melhor forma de chegar a Castanheira de Pera é através do IC8, apanhando depois a EN 236. Chegando ao centro da vila segue-se no sentido do Coentral Grande até à Ponte da Pedra, que se encontra um pouco depois de Sarnadas, e onde o nosso passeio começa.

1ª Etapa – Ponte da Pedra – Coentral Grande

A Ponte da Pedra é uma pequena ponte de pedra (como o nome indica), que atravessa a bela ribeira de Pera. Por ela passaram muitos carros de bois carregados com a neve que era recolhida nos Poços da Neve, construídos no cume da Serra da Lousã, e transportada até ao rio Zêzere, onde ia em barcaças até Lisboa. Lá, entre outras funções, servia para fazer gelados que eram vendidos no café Martinho da Arcádia e na corte para os deleites reais. A esta neve chamava-se “Neve Real” e eram concedidos especiais favores a quem a transportasse, os neveiros.

Pois também por esta ponte vamos passar e seguir durante algum tempo o caminho percorrido pelos neveiros. Este caminho, ao exemplo da ponte, é todo construído em pedra e os seus muros, forrados a musgo, percorrem as margens da ribeira. Os carvalhos e os castanheiros de copas frondosas preenchem o espaço e alguns atestam mesmo a sua antiguidade, com os seus troncos enrugados e contorcidos. Pelo chão coberto de folhas podemos encontrar pequenas flores coloridas, fetos reais, dedaleiras e outras espécies que por ali proliferam.

Nas margens da ribeira de Pera encontraremos, durante o nosso percurso, construções de pedra, que eram na sua maioria antigos moinhos movidos pela força hidráulica, dos quais não restam senão as paredes e alguns pedaços dos engenhos que um dia lhes deram vida. Foram já base de sustento, mas as novas tecnologias e o desencanto condenaram à morte estes espaços de vida, histórias e cultura.

Seguindo até o Coentral do Fojo, uma pequena povoação quase desabitada, podemos reparar num pequeno engenho construído com roldanas e peças de bicicleta, que servia para aproximar as duas margens da ribeira, que a esta altura se tornam escarpadas. Ali eram atravessadas as cartas e o pão, colocados no fio que já não existe.

Vamos aos poucos entrando na aldeia do Coentral Grande, onde a natureza no seu estado mais selvagem é substituída por uma natureza mais intervencionada pelo homem. O verde vai dando lugar às casas, suas hortas e quintais. Por aqui e por ali um cão ou um gato aparecem curiosos, e ouvem-se já os sorrisos distantes de alguma criança, entrecortados pelo sino da igreja.

O Coentral Grande é uma pequena aldeia serrana que em tempos foi terra de neveiros. A sua capela altaneira, encimada por grandes carvalhos, foi erigida em honra de Nossa Senhora da Nazaré do Coentral. De uma só nave e três altares, a sua construção remonta a 1691, e a sua beleza vale pela sua simplicidade.

2ª Etapa - Coentral Grande – Vale Silveira

Do Coentral seguimos em direcção ao Vale Silveira, por entre ruas estreitas e casario serrano. Chegando a uma bifurcação de estrada de alcatrão com outra de terra batida, seguimos pela de terra batida, embrenhando-nos mais uma vez numa frondosa floresta de carvalhos, abetos, medronheiros, ciprestes, faias e figueiras.

Este é um bom pretexto para encher os pulmões de ar fresco, respirar fundo e deixar o olfacto ser invadido por odores verdejantes, de múltiplas origens. À medida que nos vamos aproximando do Vale Silveira os sons da ribeira vão-se tornando mais próximos e apercebemo-nos da existência de uma cascata onde a água se precipita pedra sobre pedra e desaparece saltitante.

Chegamos, então, a um local onde existe uma pequena ponte de madeira, que atravessamos para nos depararmos com um magnífico vale verdejante, forrado a verde, com árvores de inigualável beleza e intemporalidade. Por ali podemos demorar-nos e aproveitar para imaginar como teria sido a vida daqueles que já nem o tempo lembra, e que ali habitaram. Agora o silêncio, a serenidade, a paz e o equilíbrio pleno que só a natureza e a sua perfeição conseguem, inundam aquele espaço, destinado apenas a alguns privilegiados, que o visitam e que nele sabem fruir tanta energia e tanta beleza.

É altura de regressar. Podemos seguir pela levada de água, que nos levará de novo à aldeia do Coentral, e dali seguir até à Fonte das Bicas, fonte centenária com um espaço de lazer e descanso contíguo. Dali seguimos pelas traseiras da aldeia por uma estrada de pedra calcetada, que no levará até à ponte do Cavalete, local de confluência entre a ribeira do Cavalete e a de Pera, e já em estrada de alcatrão, seguimos uns escassos metros até ao local onde os carros ficaram estacionados. Aqui acaba um dos muitos passeios que se podem fazer na Serra da Lousã.

Alguns cuidados que não pode esquecer quando realizar caminhadas:
Os impactos de uma caminhada para o ecossistema visitado podem ser muito negativos e irreversíveis se não forem tomadas precauções, que vão desde a formação de grupos pequenos, à utilização dos trilhos existentes, a recolha do lixo, o silêncio, a não recolha de espécies vegetais ou quaisquer outras e o respeito pelas populações. Depois não se esqueça do calçado confortável, a roupa de algodão, o chapéu e a garrafa de água para poder encher nas fontes com água fresca que encontrará pelo caminho. A máquina fotográfica é sempre uma boa alternativa para quando quiser eternizar uma paisagem ou um pequeno detalhe.

Então Boas Caminhadas!

Contactos úteis:

- Alojamento – A Albergaria O Lagar, um espaço acolhedor nas imediações da Vila de Castanheira de Pera – 236 430120 ;

- Onde comer – Churrasqueira Castanheirense, onde se come bem e barato, também na vila – 236 432257 ; Poço Corga, situado na praia fluvial que dá o nome ao restaurante – 236 432923 ;

- Posto de Turismo – 236 430280 ;

por Joana Oliveira

http://www.naturlink.pt/canais/Artigo.asp?iArtigo=6218&iLingua=1

publicado em Junho 2000